terça-feira, 15 de outubro de 2013

Quando não nos conhecemos mais.

Queria saber o que se passa na cabeça de todas as pessoas. Eu, aqui de perto, dentro de casa, sei exatamente de tudo que está acontecendo e posso afirmar: Não precisamos de mais gente, nem de mais palpites e muito menos de falatório na cabeça alheia.
A vida nos prega boas peças e com elas nós temos que aprender e passar o conhecimento pra frente. Acham que eu imaginaria que um dia meu avô estaria em cima de uma cama precisando de ajuda para beber um copo d’água? Tenho outra afirmativa a fazer, essa, mais longa: Meus avós são casados há quase 60 anos, um casamento turbulento, que começou cedo e muitas vezes quase acabou. Deu vida aos meus três tios e minha mãe, que são pessoas muito importantes pra mim, mas que muitas vezes, não sabem o que estão fazendo.
Não digo que estou certa em tudo, de certo, não estou. Mas vou contar-lhes, porque preciso jogar isso tudo pra longe de mim. Estamos vivendo um momento muito difícil,  em que meu avô está acamado e não respeita absolutamente ninguém, não consegue se levantar sozinho e levanta o tom de voz para humilhar qualquer um que não o dê regalias. Agora eu pergunto, uma pessoa que trabalhou a vida toda, que sustentou e criou todos nós da família e que sem ele não seriamos o que somos hoje não merece o mínimo de regalia? Resposta: Merece. Mas convenhamos que não é fácil lidar com uma pessoa que te humilha o tempo todo, com outros falando uma montoeira de merda em sua cabeça e querendo agitar as coisas e mudando os nossos rumos. Esse é o fato que minha avó está vivendo. Faz tudo, tudo para meu avô, desde dar água em sua boca até dar banho. E o que ela ganha em troca? Um monte de gente que não está aqui dentro de casa, suplicando a paciência que não teriam se estivessem em seu lugar. Olha, eu reconheço que Caratinga não é o lugar com mais recursos médicos do país, mas aqui é a casa do meu avô, aqui é onde vivemos, onde NÓS vivemos. A vida já está difícil demais, estamos suportando uma barra que está refletindo em todo mundo, cada um carregando em si a insônia de cada noite. Então, eu digo: Não deixaremos de cuidar dele, não deixaremos de dar notícias para todos, a casa está aberta para visitas passageiras, nós estamos aceitando palavras de consolo, colos amigos e até dinheiro.
O vô foi ao médico ontem, e sabem de uma coisa, ele tem uma doença que não tem cura, o nome é mielodisplasia (http://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/371194/conheca+a+mielodisplasia+suas+causas+sintomas+diagnostico+tratamento+e+evolucao.htm). Ele está bem, só que ainda se sente fraco e enjoa muito fácil pelo fato de ficar muito deitado e sem comer direito. Não é falta de pergunta, acreditem, minha avó e minha mãe, por mais que ele diga o contrário, sempre perguntam se ele quer levantar se quer comer, de ser fazer qualquer coisa e ele quase nunca quer e quando quer, não pede, manda. Isso é difícil. Ele é medicado aqui e muito bem cuidado, recebe as bolsas de sangue que vêm de Governador Valadares e as vezes demoram um pouco, como hoje. Mais cedo, eles foram ao PAM receber a bolsa, mas ainda não está lá, então acontecerá amanhã. Mas isso não causa nenhuma interferência no tratamento. O Dr. Roberto Carlos é um bom hematologista e está cuidando do vô como se fosse um parente. As coisas estão se encaixando e aos poucos sei que todos criaremos resistência para seguirmos em frente. Agora ele continua com os remédios e está tomando Dramin para esses enjoos. Fica deitado, ouve música no radinho, conversa com as pessoas quando ligam ou vêm aqui... E todos sabemos o final dessa história. Eu reconheço que meu avô é tudo em minha vida e que dói demais o ver assim, mas àqueles que acreditam em um bem maior depois disso tudo, devem imaginar, assim como minha avó diz, que um Deus não castiga, ele só dá exemplo, só ensina. E para nós outros, que não nos damos à isso, sabemos que o corpo é um organismo sujeito a mudanças e falhas. Pois bem, todos nós acreditamos em uma coisa pelo menos: No amor que sentimos por ele.
Agora, aos amigos e familiares, o meu muito obrigada pela consideração, obrigada por nos lembrarem que jamais estaremos sozinhos, vocês estão fazendo demais já. E como minha mãe sempre me disse, “muito ajuda aquele que pouco atrapalha.” Então, deixe como está, faremos sempre o possível, não suportaríamos perder aquele que mais amamos, não perderemos as forças enquanto tivermos oportunidades em nossa frente. Cabe aqui, o meu apelo a todos aqueles que não estão aqui e querem estar, eu entendo, talvez eu não quisesse estar aqui agora, talvez eu quisesse receber notícias por um telefonema, mas nós encaminhamos a vida de um jeito diferente e agora não precisamos largar tudo e voltar atrás, não é nenhum filme da Sessão da Tarde onde tudo vai acabar lindamente. Porque todos sabemos que a vida não é assim. Obrigada pela preocupação, pela ajuda, e pelo carinho e me desculpem por ter que falar o que estou sentindo, mesmo que ninguém leia. Agora, se quiserem notícias, podem ligar ou até mesmo aparecer aqui, como disse, todos têm esse direito, mas se quiserem dar palpites que não cabem, falar do que não sabem, desculpe, mas estamos dispensando.

Eu amo todos vocês. E sei que todos nós amamos o meu avô, pai, tio, irmão, amigo, Gilson.

Cuidamos e cuidaremos dele, sempre. Mas quero lembrar que pra qualquer tipo de relação, deve haver o respeito e o espaço de cada um, caso contrário, não há boa relação.

Obrigada.